Muita gente se pergunta o que fazer pra ser mais feliz e se é possível MUDAR o patamar da própria felicidade.

O tema não é ciência exata e todo ser humano é um indivíduo único, o que dificulta uma resposta taxativa, mas tenho boas e más notícias.

A boa notícia é que é sim possível mudar quase qualquer coisa em nossa vida. Uma dos traços distintivos mais fantásticos da espécie humana é que nascemos com a formidável capacidade de sermos protagonistas do próprio destino, ao contrário dos outros animais, que são escravos dos seus instintos. Uma girafa só pode girafear, um hipopótamo só sabe hipopotamear, um grilo grilar, um bicho preguiça espreguiçar, passarinho passará, jacaré jacarandá.

Mas o ser humano é diferente, pois nasceu com o dom (e o fardo) da escolha. Não somos reféns da nossa biologia. Para o bem e para o mal, não conhecemos limitações. Não somos peixes, mas aprendemos a nadar, mergulhar e desbravar os oceanos. Não somos pássaros, mas aprendemos a voar. Até mesmo tropicar nas crateras da lua nós já conseguimos. Então é possível mudar, fazer escolhas, escrever a própria história, e isso é a boa notícia.

A má notícia é que mudar (de verdade) não é tão simples assim.

Entre o desejo e a ação consistente e prolongada (que promove as verdadeiras mudanças) normalmente há um abismo a transpor. É por isso que adiamos o regime para uma segunda feira que nunca chega e o aprendizado da nova língua para o ano que vem. Mudar é possível, mas complexo, demanda um compromisso profundo da gente com a gente mesmo. Requer disciplina, foco, obstinação.

Deve ser por isso que os estudos longitudinais (de longo prazo) a respeito da Felicidade mostram que temos um índice de satisfação com a própria vida relativamente estável ao longo dos anos, com altos e baixos explicáveis por conjunturas pontuais (ganhar ou perder um grande amor, vitórias e derrotas profissionais, saúde ou doença, etc). A Teoria da Evolução diz que as espécies que se perpetuam não são aquelas mais fortes, mas as que melhor se adaptam, e esse mecanismo evolutivo acaba por nos empurrar para uma “média psicológica”. Quando algo muito bom nos acontece, logo nos acostumamos àquele patamar. Do mesmo modo, quando algo negativo ocorre, algum tempo depois nos adaptamos à nova situação. Isso é positivo em termos evolutivos, mas tende a pasteurizar a nossa percepção da própria Felicidade. É que essa percepção funciona por contraste. A gente está sempre se comparando, conosco mesmo ou com o ambiente ao redor. Eu tenho um salário de R$3.000, se ontem ele era de R$2.000 eu fico feliz, mas depois de um mês me acostumo e volto à minha felicidade anterior. Ou: tenho um salário de R$5.000, mas se meu colega da mesa ao lado passa a ganhar R$6.000 eu me sinto infeliz. Estou saudável e não me sinto feliz por isso, exceto se ontem estava acamado, e então me sinto feliz.

Mas qual seria então a fórmula da felicidade e como aumentar esse patamar?

Obviamente que não existe Fórmula da Felicidade, e se houvesse certamente seria uma ideia infeliz e cientificamente questionável. Mas há uma série de estudos, com algum grau de validade, que mostram que a nossa Felicidade é um construto, uma composição que sofre influência de diferentes fatores.

O fator mais importante é o genético, que responde por aproximadamente metade da nossa taxa de felicidade. Nesse sentido, na loteria dos genes que nos faz seres únicos, já nasceríamos com uma predisposição a sermos mais ou menos felizes, mais otimistas ou mais céticos, mais introspectivos ou mais extravagantes. Você certamente conhece uma infinidade de perfis, e sabe que essa variação de personalidade existe, até entre irmãos.

Há ainda as “circunstâncias externas”, que explicam aproximadamente 10% da nossa taxa de felicidade, tais como a cidade que você vive, o chefe que voce tem, a sua família, a meteorologia ou a sua condição social. Observe que normalmente damos um valor colossal a essas externalidades, e no entando elas possuem um peso muito pequeno na nossa taxa geral de felicidade, ou então um peso grande imediato, como quando você compra um produto que desejava ardentemente, mas que logo se dissipa no tempo.

E por fim, respondendo por cerca de 40% da nossa taxa de felicidade, entra o componente atitudinal, o mindset, ou sua visão de mundo, como você se comporta em relação aos episódios que ocorrem na sua vida, e como você enfrenta os desafios inerentes a sua trajetória. E aqui entra o fator fundamental: VOCÊ, sua capacidade de fazer escolhas, de perseverar, de preferir a visão otimista ao pessimismo, de acordar cedo mesmo quando está frio, chovendo canivete e a cama quente, de perseverar, não desistir, ou conseguir enxergar o lado positivo e a transcedência (religiosa ou não) das coisas que nos ocorrem.

As internalidades (genética + atitudes), portanto, explicam pelo menos 90% da taxa de felicidade de uma pessoa. As externalidades 10%.

Você não pode controlar o que o mundo te traz, mas pode controlar como você reage ao que o mundo te traz. Você pode até ser o estagiário da empresa, mas é o Presidente da própria vida. Você tem agido como Presidente da própria vida?

Mudar não é fácil, mas é uma habilidade essencialmente humana. Você não nasceu girafa, grilo,  jacaré nem bicho preguiça.

Tome as rédeas do seu destino, assuma a Presidência da própria vida, e seja mais feliz.